"Auschwitz - Os Nazis e a «Solução Final»" é uma obra em que Laurence Rees investiga exaustivamente o horror constituído tão só pela existência de um complexo como o de Auschwitz-Birkenau, na Polónia, e de tudo quanto de baixeza e crueldade humana isso significou.
Pela sua especificidade , tornou-se o macabro símbolo da política racial e étnica nazi durante todo o seu período de funcionamento ( 14/6/1940 - 27/1/1945), em que milhões de seres humanos de todas as etnias, idades , sexo , pensamento político, orientação sexual , religião, ali foram escravizados, torturados , assassinados.
Refere , igualmente, a instalação de um bordel e a maneira como os prisioneiros masculinos utilizavam sexualmente as prisioneiras.
Assim como, inevitavelmente, fala nas experiências de Josef Mengele e restante equipa médica.
No entanto, não foi construído propositadamente para o extermínio de judeus nem nunca foi esse o seu principal objectivo. Aliás, campos de extermínio existiram, muito menores, certamente sem precedentes históricos , em que se praticou maior assassinato massivo e de que hoje, dalguns nem vestígios restam : Belzec, Sobibór e Treblinka, cujo funcionamento começou em 1942.
Foca também o comportamento dos próprios judeus enquanto responsáveis pelos guetos criados ( Mordechai Chaim R. , dirigente do de Lódz, exemplificando, que esteve longe de ser irrepreensível) e de como se vingaram dos alemães ,após a vitória dos Aliados, sem grandes escrúpulos.
Aborda a maneira como os diversos países protegeram ou não os seus cidadãos judeus e de como os receberam após a libertação. E, francamente, naqueles que ficaram sob a URSS - que até as pessoas soviéticas tratou indecentemente - tiveram problemas bem graves. Sendo assim, percebe-se que tenham querido criar Israel, o que criou um problema maior ainda e sem fim à vista (também pelo apoio incondicional dos EUA ao novo país), isto é, o duro conflito israelo-palestiniano.
O interesse do livro é muito, porque analisa com profundidade quanto se passou e como se passou naquele período negro e não se centra só nos judeus como vítimas, pois não esquece quem também foi perseguido , aprisionado e assassinado pelo regime de Hitler, referindo o genocídio de ciganos e a eutanásia selectiva dos deficientes alemães, por exemplo. Além disso, o autor entrevistou vítimas e carrascos - um destes achou importante testemunhar o que vira em Auschwitz, enquanto lá trabalhara como administrativo SS, porque um seu companheiro actual de lazer não concebia ser verdadeira a chacina levada a cabo nos campos nazis.
Um documento chocante pela brutalidade do que relata e pelos números espantosos de vítimas, embora pecando por defeito.
Penso que a não perder , pois abarca muito mais do que é habitual nas obras dedicadas à Segunda Guerra.
- "Esta procura de uma relação com uma figura com poder como meio de sobrevivência não se confinava a Auschwitz; também era um fenómeno comum na vida do gueto.Acontece que, aqui, o indivíduo com o poder de vida ou de morte tanto podia ser judeu como alemão."
- "Em Dezembro de 1941...Christian Wirth chegou a Belzec para ocupar o posto de comandante.Tinha cinquenta e seis anos.Em 1939, envolveu-se nas acções de eutanásia aplicadas aos doentes mentais, tendo ajudado a organizar o assassínio destes por meio de monóxido de carbono engarrafado. Em 1941, trabalhava na zona de Lublin, onde levava a cabo mais mortes por eutanásia...era um sádico."
- " Vera Alexander, uma prisioneira checoslovaca, apercebeu-se de perto da existência desta dualidade de personalidades em Mengele quando exercia as funções de Kapo num dos blocos destinados a crianças polacas e ciganas."