"POEMA SOBRE O DESASTRE DE LISBOA"(Excerto)
Ó míseros mortais! ó terra deplorável! De todos os mortais monturo inextricável! Eterno sustentar de inútil dor também! Filósofos que em vão gritais:"Tudo está bem"; Vinde pois, contemplai ruínas desoladas, restos, farrapos só, cinzas desventuradas, as crianças e as mães, os seus corpos em pilhas, membros ao deus-dará no mármore em estilhas desgraçados cem mil que a terra já devora, em sangue , a espedaçar-se e a palpitar embora que soterrados são, nenhum socorro atinam e em horrível tormento os tristes dias finam! Aos gritos mudos já das vozes expirando, à cena de pavor das cinzas fumegando, direis: "Efeito tal de eternas leis se colha que de um Deus livre e bom carecem de uma escolha"? Direis do amontoar que as vítimas oprime: "Deus vingou-se, e a morte os faz pagar seu crime"? As crianças que crime ou falta terão, qual?, esmagadas sangrando em seio maternal? Lisboa, que se foi, pois mais vícios ...