Neste Dia da Mulher, escolhi Souha Béchara para simbolizar as mulheres que lutam para defender uma causa, arcando com pesadas consequências.
Esta libanesa nasceu em 15 de Junho de 1967, dia da derrota árabe face a Israel.
Cresceu com o país em guerra civil e a devastadora ocupação israelita. Situação contra a qual se rebelou desde muito nova, o que a levou a atentar contra Antoine Lahad em Setembro de 1988.
Lahad (1927-2015) era um cristão maronita , chefe do dito Exército do Sul do Líbano de 1984 até à sua dissolução em 200o. Khiam, o campo de concentração que Israel teve durante décadas no sul libanês , estava sob sua responsabilidade.
E durante dez anos, a resistente foi aí encarcerada, sem jamais ser julgada, em condições terríveis, incluindo torturas e seis anos em isolamento total - além de ser enfiada numa cela minúscula e, ainda assim, com os movimentos tolhidos.
"Résistante", a sua autobiografia, em colaboração com Gilles Paris, é um testemunho da violência física e psicológica sofrida por todas as infelizes pessoas que passaram por aquelas condições atrozes .
Foi libertada em 1988, após intensa campanha internacional a que muita gente em Israel se juntou .
EXCERTOS DE "RÉSISTANTE"
(Livre tradução minha do Francês)
>> " Com o avanço dos Israelitas, o quotidiano torna-se pela primeira vez quase insuportável... Os hospitais transbordam... A tensão cresce proporcionalmente à velocidade das cargas israelitas... O combate revela-se desigual... O monte Liban é bombardeado pelo couraçado americano New Jersey ."
>> " Sentado à minha esquerda, Antoine Lahad prosseguia a sua discussão. O seu olhar pousa um instante sobre mim ... Eu estava extraordinariamente calma... Sempre sentada, tiro com toda a naturalidade o punho armado do saco. Estendo instantaneamente o braço em direcção do chefe da milícia ... esforço-me para visar o coração... Antoine Lahad , cai ... um insulto sai dos seus lábios e eu disparo segunda vez.... "
>> " Khiam ou o inferno sem nome e sem existência... Ninguém sabe, entrando em Khiam, se sairá na semana seguinte ou muitos anos mais tarde. De resto, nem sabe se sobreviverá. Sobretudo as mulheres... O meu primeiro período de isolamento interrompe-se ao fim de dez meses. Não será o último."