"A CONFISSÃO DA LEOA" : MIA COUTO
Acabei de ler "A Confissão da Leoa" do escritor moçambicano Mia Couto, nascido na Beira em 1955 e galardoado com o Prémio Camões em 2013.
Não é a minha estreia na sua escrita, mas foi talvez do que mais gostei . E gostos, como se costuma dizer, não se discutem.
O romance , segundo o próprio , inspira-se "em factos e personagens reais."
A realidade foi a de uma série de ataques mortais efectuados por leões numa longínqua região do norte de Moçambique, que obrigou a enviar para lá uma equipa de caçadores.
A dada altura, esses homens viram-se confrontados com algo bem mais complicado do que a já de si dura tarefa de matar os animais, o que conseguiram.
E foi esta a base para Mia Couto criar um enredo envolvente, cuja narração é feita por Mariamar, habitante da aldeia de Kulumani, e Arcanjo Baleiro, o caçador contratado pelo administrador para matar os leões.
Mariamar é uma figura marcante, alguém a quem a vida muito maltratou e que tem no avô a figura de referência e a sua fonte de amor e protecção.
Tomamos conhecimento de quanto podem ser cruéis as superstições, a anulação do ser humano, a condição da mulher sob domínio total do homem (seja pai , seja marido). E também da revolta, geralmente sufocada, contra esse estado de coisas...mas que , por vezes, rompe os diques e se transforma em acção e vingança.
"Tandi foi a enterrar...Há pouca gente no funeral. Mulheres sobretudo. O administrador comparece, acompanhado por sua esposa...está desfeita...quer tomar da palavra...:
- Os leões cercando a aldeia e os homens continuam a mandar as mulheres vigiarem as machambas...Quando é que dizemos que não? Quando já não restar nenhuma de nós?
Esperava que as demais mulheres a seguissem naquele convite à revolta. Mas elas encolhem os ombros e afastam-se, uma por uma...Por dentro, ela sente-se a derradeira das mulheres. Como eu me sinto o último dos caçadores."
"As mulheres viam-me às costas dos rapazes e , apoquentadas, viravam a cara. É nessa posição, às cavalitas, que as madrinhas...transportam para as cerimónias as meninas que se vão transmutar em mulheres...não me perdoavam: eu antecipava e desarrumava um momento que se queria recatado e sagrado. Filha e neta de assimilados, eu não cabia num mundo guiado por arcaicos mandamentos. O meu pecado tornava-se mais grave por causa dos tempos de crise que vivíamos. Quanto mais a guerra nos roubava certezas, mais carecíamos da segurança de um passado feito de ordem e obediência."
MIA COUTO
( "A Confissão da Leoa")
A realidade foi a de uma série de ataques mortais efectuados por leões numa longínqua região do norte de Moçambique, que obrigou a enviar para lá uma equipa de caçadores.
A dada altura, esses homens viram-se confrontados com algo bem mais complicado do que a já de si dura tarefa de matar os animais, o que conseguiram.
E foi esta a base para Mia Couto criar um enredo envolvente, cuja narração é feita por Mariamar, habitante da aldeia de Kulumani, e Arcanjo Baleiro, o caçador contratado pelo administrador para matar os leões.
Mariamar é uma figura marcante, alguém a quem a vida muito maltratou e que tem no avô a figura de referência e a sua fonte de amor e protecção.
Tomamos conhecimento de quanto podem ser cruéis as superstições, a anulação do ser humano, a condição da mulher sob domínio total do homem (seja pai , seja marido). E também da revolta, geralmente sufocada, contra esse estado de coisas...mas que , por vezes, rompe os diques e se transforma em acção e vingança.
"Tandi foi a enterrar...Há pouca gente no funeral. Mulheres sobretudo. O administrador comparece, acompanhado por sua esposa...está desfeita...quer tomar da palavra...:
- Os leões cercando a aldeia e os homens continuam a mandar as mulheres vigiarem as machambas...Quando é que dizemos que não? Quando já não restar nenhuma de nós?
Esperava que as demais mulheres a seguissem naquele convite à revolta. Mas elas encolhem os ombros e afastam-se, uma por uma...Por dentro, ela sente-se a derradeira das mulheres. Como eu me sinto o último dos caçadores."
"As mulheres viam-me às costas dos rapazes e , apoquentadas, viravam a cara. É nessa posição, às cavalitas, que as madrinhas...transportam para as cerimónias as meninas que se vão transmutar em mulheres...não me perdoavam: eu antecipava e desarrumava um momento que se queria recatado e sagrado. Filha e neta de assimilados, eu não cabia num mundo guiado por arcaicos mandamentos. O meu pecado tornava-se mais grave por causa dos tempos de crise que vivíamos. Quanto mais a guerra nos roubava certezas, mais carecíamos da segurança de um passado feito de ordem e obediência."
MIA COUTO
( "A Confissão da Leoa")
Tudo o que é de Mia Couto é como uma referência.
ResponderEliminarAinda não li, mas a minha filhota recebeu como prenda e tem para emprestar à mamã.
Adorei Sãozita.
beijinho e uma flor
Que engraçado, também mo ofereceram como prenda de anos, rrss
ResponderEliminarEu achei o livro muito bom. Depois me dirás a tua opinião.
Sonhos deliciosos, meu anjo.
Fã incondicional do Mia Couto, adorei A Confissão da Leoa.
ResponderEliminarSó o imaginário dele podia resultar num livro assim.
Tudo que li de Mia Couto gostei, e até mesmo uma ou outra entrevista , também .
ResponderEliminarHá alma naquele peito .
Quanto a este livro, não conheço , mas fiquei curiosa .
Obridada , São , pela partilha .
Abraço grande ,
Maria
Gosto muitíssimo de Mia Couto e já li muita coisa dele, inclusive poesia.Mas, realmente, para mim este é extraordinário.
ResponderEliminarAdoro aqueles textos em que ele foca um tema e o aborda com uma inteligência penetrante e uma frontalidade corajosa.
´
É uma pessoa a sério, com sensibilidade e alma.
Que tenha bom dia, PEDRO
MARIA, se os outros te agradaram, penso que este ainda te agradará mais.
ResponderEliminarEu li-o de um fôlego, embora nunca seja muito lenta a ler um livro.
Abraço grande.
¡qué poco nos llega de la literatura actual en portugués a este otro lado de la Península, querida amiga!
ResponderEliminarBesos.
Bom dia São!!!
ResponderEliminarAinda não tive a oportunidade de ler este livro, mas um dia vou querer ler...pois gostei da sua resenha.
E quanto ao nosso dia das crianças, no Brasil comemoramos no dia 12 de outubro. rsrsr
Feliz e Abençoada Semana!!!
Abraços da Bia!!!
Na minha lista...
ResponderEliminarBeijos e obrigado pelos excertos apetitosos.
Beijo
Oi, São!
ResponderEliminarSou apaixonada por tudo que Mia Couto escreve ou fala! :) Esse livro ainda não li, mas já o tenho aqui. Está na espera da leitura de outros livros... acho que vou passá-lo à frente... rs.
Beijus,
Olá São!
ResponderEliminarUma ótima dica! Pela maneira com que escreveu, dá vontade de começar a ler hoje. Nunca li nada de Mia Couto. Já anotei!
Abraço!
Li um único romance de Mia Couto, há uns bons anos, talvez 20, na altura em que se começou a falar mais dele em Portugal. Tenho de retomá-lo ;)
ResponderEliminarBeijinhos
Interessante, visitei o blog do Arabe e lá li um comentário seu e resolvi vir pra cá para comentar o seu comentário. kkkkk
ResponderEliminarAcabei visitando seus blogs e encantando-me com com os textos.
Também sou bipolar. Atualmente não sinto vontade de ler livros, pode ser que a vontade volte. Mas gostei muito da sua crítica sobre sua leitura.
beijos
Infelizmente, tens toda a razão : é como se oceano nos separasse!
ResponderEliminarO que sei da literatura espanhola actual a ti o devo.
Grato abraço, querido PEDRO.
Bem vinda, BIA!
ResponderEliminarQue engraçado: o nosso é em dia e mês bem diferente, rrss
Se um dia o ler , me dirá o que pensa dele, sim?
Bom final de semana.
PÉROLA, grato abraço.
ResponderEliminarMas , tenho que confessar, a ideia de colocar excertos, copiei-a da Teté(Blogue Quiproquó), rrss
Bom final de semana
Passe à frente, porque acho que não se irá arrepender e depois me diz a opinião...
ResponderEliminarBom final de semana, LUMA
Nunca leu? Nem mesmo a carta que escreveu ao Presidente norte-americano ou aquela dirigida à geração que não soube educar as suas crianças?
ResponderEliminarEntão, CLAUDINHA, comece por este, porque penso que gostará.
Bem haja!
Aconselho , então, o recomeço por este...
ResponderEliminarBeijinhos, GATA
UMA APRENDIZ, seja bem vinda !
ResponderEliminarGrato abraço pela gentileza das suas palavras e volte sempre, rrss
Bem haja!
,
ResponderEliminarai, Mia Couto !!!!!
,
O mar foi ontem
o que o idioma pode ser hoje,
basta vencer alguns Adamastores.
,
in - Mia Couto
,
São se for possivel,
volta ao meu Blog,
só (agora),está completo .
,
Marés de afectos, deixo,
*
Desde que tenha transmitido algo bom, é o mais importante!
ResponderEliminarLo que han sufrido y sufren las mujeres en todas partes del mundo es terrible.
ResponderEliminarTerrível e completamente injustificável: como é possível acontecerem estas atrocidades no século XXI?!E, pior, é a alienação das vítimas, que leva a que nem se revoltem!
ResponderEliminarBom final de semana, Toro
Mia Couto nunca escreve futilmente
ResponderEliminarBom final de semana,DIANA, rrss
Amigo, aos teus blogues voltei e neles escrevi o que penso.
ResponderEliminarQue a língua portuguesa viva , mas não direcionada por decreto!
Beijinhos afectuosos, POETA